4 de nov. de 2008

Joana e a ararinha

Entardece mais um dia. Joana na vila sozinha olha. Olha por recortes de cortina os reflexos do sol moribundo.
As pessoas por aí, tão preocupadas com nada. Joana queria e não queria sentir. Seu peito inflava desespero e desinflava solidão.
Um ruído visitou sua esquecida janela, um gralhar alto que perturbou seu ouvido. Viu brotar da eira do telhado a cabeça de um pássaro curioso, verde vivo com seu bico virado pra baixo.
Ela assobiou para ele e ele respondeu "uh-uh" . Ela o chamou de louro e ele de novo grasnou. As asas da ararinha não eram cortadas, devia ser uma selvagem perdida na cidade e curiosa por telhados de barro.
As cores da ararinha contra o sol eram mais brilhantes e sua silhueta barulhenta a fascinava.
Joana pensou que assim que o sol se fosse, junto iria a ararinha. E seu momento de cor se esvairia com a noite. Pensou em raptar o pássaro e guardá-lo para si, assim poderia trocar grasnados a todo o momento com o adorável ser.
Mesmo assim, não teve coragem de se aproximar da ararinha. Ficou ali, estática, até os últimos raios de sol, até onde conseguiu ver o verde das penas.

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