8 de ago. de 2009

O mímico

Alguns dias me faço esquecer no meio da multidão sem rosto que caminha na calçada, cada um a seu ritmo e destino.
Arrastando-me pelas escadas no metrô, coloco meu bilhete de ida e volta para retirá-lo do outro lado do jeito mais automático possível. A plataforma acumula gente de toda sorte. Mochilas, pastas, bolsas enormes ornam os corpos daquela gente cansada.
Olho pra trás e vejo uma figura curiosa. Um rapaz que pateticamente imita meus gestos teatralmente e com um riso bobo no rosto.
-Ele não deve ter o que fazer - penso na hora. Passei a observá-lo melhor. Pensei até que ele era meu espelho, com aquela cara patética e infeliz. Mas por que raios isso é comigo?
Os outros na plataforma me olham e riem da minha irritação. Então aquele fulano desocupado e pseudo-artista tinha pago uma passagem só pra me imitar? Vá lá estivesse em Paris, onde isso é normal e até faz alguns turistas sorrirem.
Chega o trem, embarco no segundo vagão e continuo sendo seguida pelo homem que se senta ao meu lado e cruza as pernas do mesmo jeito que eu, que tenho mania de sentar em forma de vírgula. Como ele consegue?
Só dá pra rir mesmo. Rio porque eu não penso em dar um centavo pra esse desgraçado.
Os passageiros também riem, acho que é do meu desconforto e irritação. Pego o celular da bolsa. Lógico que não pega celular no trem, peguei mesmo pra ver o horário e pra tentar esquecer o palhaço que obviamente estava me assediando.
Coloco o mp3 e tento ouvir a mesma seleção do dia. O homem finge que está ouvindo música e sai dançando pelo vagão. Quis jogá-lo pra fora do trem em movimento.
Chega a minha estação. O homem sai atrás de mim tentando ser minha sombra, ainda com aquela cara de bobo alegre e desocupado.
Tirei meu mp3 e resolvi encarar os fatos. Virei para ele e perguntei por que eu?. Ele deu de ombros e fez aquela cara imbecil. Perguntei se ele era mudo, retardado ou gringo e ele assinalou que não e me deu um cartãozinho escrito: EU GOSTEI DE VOCÊ.