1 de mai. de 2011

Domingo

Por que me seguem? Sem pistas do que sou, ando deslumbrada.
Sinto fome, a imensa fome. Nada me deixa saciada.
Deitada na cama, domingo à noite, o cobertor nos pés, minha velhice precoce acelera os pensamentos da semana. Nada tenho, nada temo. Tenho a mim, meus sonhos, minha estrada.
Há de haver fome, penso. Há de haver saciedade um momento ou outro quando sento em pedras e vejo as águas, quando sinto o sol batendo nas fachadas, quando pego o jornal pra fazer palavra cruzada.
Há de haver medo pra que a coragem seja encorajada. Há de haver pressa para não se atropelada, há de ver ciume para nao ser tão apegada. Há de haver alma para tanto.
Sussuro para ele: vá escovar os dentes.
Ele não vai. Quer me ler um trecho de sua revista. Eu quero ouvir pra me embalar no sono. Este mesmo sono induzido dos meus dias. Acordo quebrada e não sei de nada que fiz. Quem mandou dormir sedada? Parecia mais fácil do que rolar de um lado pra outro pedindo pra ser abraçada pelo torpor natural. Remédio que não cura, outro vício, outra medida equivocada. Ele vai adormecer e eu ainda não ouvi o artigo que ele quer ler. Seguro os olhos pra não cair, amanhã é segunda-feira mais uma vez.