29 de mar. de 2010

Ana

Ana vinha tímida sempre que chamassem. Diferente de quando ela saía por conta para perceber as coisas. Batia com os bicos dos tênis alternando os pés enquanto ouvia sons, quebrava de leve a cintura para os lados conforme a música comandava. Não creio que ela soubesse ouvir com os ouvidos, mas que ela ouvisse com todo o corpo envolvido na energia da música.
Ana mal se sentia. Sentia-se boba acreditando quando diziam que tinha o talento de reproduzir coisas. Sorria por fora mas por dentro mentia o que era aquilo.
Sempre havia tempo demais ou de menos para seus desejos, tudo estava desalinhado e desconjuntado com suas emoções. Vivia as imagens no passado como cenas construídas para o presente. Narrava internamente sua história e falava de si em terceira pessoa. Ana andou, Ana riu, Ana fitou indignada alguma coisa. Ana sempre tinha feito algo que nunca fazia. Só fazia que fazia e gostava de ter feito.
O encontro de Ana com o que desejavam que tivesse feito era sempre muito complicado e triste. Vinha ardido de decepção, com um nó enorme no peito do tamanho de um sapo gigante e gordo. O que fazer?. Fazer, fazer. Viver para dentro as histórias inventadas, maquiar traços de idéias despedaçadas, respirar e sorrir.