30 de out. de 2008

Trovas duras

Favela capenga aqui do outro lado da avenida. Morar constante na encosta sob os automóveis que passeiam. Imagine, o pó na roda da bicicleta de aro ferrugem. O pingado leite no café do boteco camarada. Favelar diariamente deve ser foda.

Praças com rampas, pedágios de crianças, vazios à noite não balançam. Cercas que cortam a cara do parque, luzes que descoram o verde do bosque, pisos que ralam joelhos sem sorte.

Ruas compridas nos odômetros, números de voltas. O preto chão molhado de chuva encontrando desejo do breque. Perspontadas marcam passagens, marginais caminham os pedestres, encruzilhadas, ofertas de sorte.

26 de out. de 2008

Nostalgias

Certa noite em São Paulo, como sempre, haviam de estar juntos novamente cinco pessoas separadas pelas condições colocadas pelos próprios rumos.
O tempo de espera pelo momento era longo e à medida que iam chegando, acompanhados de seus companheiros e outros amigos, iam se acomodando em cadeiras de madeira velha de bar, o mesmo bar que abrigou tantas cervejadas desprogramadas no passado.
Falavam necessariamente sobre o passado e casualmente sobre o presente, deixando o futuro para discutir com seus companheiros.
Necessariamente porque o passado era vivo e presente ali, materializado nas faces de todos e o riso fazia sentido quando cada um refletia sobre o que viveu. Casualmente porque o presente parecia sério demais para ser debatido ali onde a diversão era o propósito do encontro.
Nostálgicos e excitados, sequer lembraram de seus companheiros presentes. Fecharam-se em sua viagem no tempo colorida e acalorada por algumas doses de cerveja. Foi um momento verdadeiro de diversão, daqueles em que chega a duvidar-se se de fato ocorreu.
Foi legitimamente um reencontro.