13 de out. de 2009

O guri

Eu vi um guri outro dia no meio da rua querendo grana pra comprar um milho verde. Com doze anos e a pele morena, olhos mais vivos que eu na idade dele. Eu vi o guri e lembrei de alguma coisa. Quis comprar o milho e talvez uma vida nova, mas ele não queria. Ele queria voltar pro pedaço de chão que ele ganhou no viaduto.
Sentei ali no pedaço de chão e chorei, chorei. O guri nem olhou pra mim. Foi pedir o milho pra outra pessoa. Eu nem notei que ele não era mais guri, era mais um. Era mais um jogado aí. Com o lábio craquelado e a fala ensaiada pra pedir. Nem adiantou eu chorar sentada ali. Nem dinheiro nem nada. Os olhinhos que eu vi, quis guardar na minha mente, peguei aquela pequena semente e dei um abraço antes de ir.

De manhã

Uma hora para conseguir o retirar o carro. Cheiro de café. Nó no intestino de manhã. Saí pra comprar quatro pães e um requeijão.
O menino não quis escovar os dentes. Trabalhos inacabados, dinheiro quase no fim. Dois Reais pela meia hora na casa de internet. Rodízio. Café. Homem lançando frases indecorosas para uma moça assanhada. Constrangida, eu. A moça parece que gosta. Que mulher não gosta? Eu. Avenida Dom Pedro parada em frente ao fórum. Vista do parque bonita de manhã. Gente correndo por correr, nem por precisar. Batom no espelho do carro. Lixo. Na rua, na avenida, no canteiro, no carro. Hoje vai fazer 25 graus. Ontem fez 24, amanhã talvez 26 se isso for uma progressão. Funk nos carros de manhã não entendo.