7 de dez. de 2007

O vazio

Para Cláudio


Deveria ser o olhar dela. Com algo de gélido, cansado. Me assustei, desviei o olhar para o tráfego da Avenida. Contei as ambulâncias que passaram, eu me retirei dali...Acho que queria outro mundo.
As crianças estavam fora. Um no inglês, o outro na natação. Mais um motivo para divagar na janela.
Ela me perguntou o que eu fazia, pra onde e pra quem olhava tanto. Eu não soube o que dizer porque acho que se dissesse "para o vazio", seria mal interpretado.
Ela pegou todos os cadernos e livros que estavam na mesa e saiu batendo a porta, com cara de brava.
Eu a vi descer até o portão, esperar o sinal de pedestres abrir, atravessar a rua e sumir atrás de um ônibus no cinza do dia. Eu esperei minha vida inteira para notar a cor do dia, mas nada fiz. Só fiquei ali, embaçando a vidraça com o meu hálito e olhando o vazio.

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