14 de jul. de 2011

Amarilis

Certo dia, acordada depois das oito da manhã, não mais pertencia aos dias.
Estava coberta de lama, dos pés à cabeça e sorria da cor marrom brilhante estalando em rachaduras por causa da luz do sol.
Logo mais a lama deslizava entre os dedos que a amassavam com carinho para depois esprême-la, esmagá-la com a palma da mão e assim vê-la tomar outra forma igualmente bela.
Saindo de minhas mãos podem ser qualquer coisa, não só minhas, mas de todos.
Desprendo cascas que secam do corpo, estas sobem ao ar formando terna nuvem luminosa. Ali meus pedaços eu deixo, no pó.
Plantar num vaso aquela Amarilis. Seu bulbo seco e rebrotado dobrou em outro bulbo que se avisinhou no mesmo vaso. As pás e tesoura descosturam a preciosa criatura para cabê-la num vaso de barro. Meu vaso que rachou depois de não poder mais se sustentar.
Quero que nasçam raízes nas rachaduras, quero ver o sacrifício da planta procurando comida nos ares, nos vãos que deixei com meus dedos. Forço os bulbos gêmeos para dentro do vaso que não quer contê-los.
Meus dedos os empurram com a força em que cavo meu espaço. O vaso arrebenta deixando cair uma parte. Sufoco as raízes com força, quero fazê-las nascer ali, fazer nascer a flor no verão, nas ruínas do recipiente.
Será belo, eu quero. Nascerá uma única flor depois que estiverem bem verdes suas folhas. Depois, irá dormir novamente acostumada com as janelas da nova casa.

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