10 de set. de 2008

Remédio caseiro

O grito ecoou no centro do corredor. Leila correu em disparada na direção do ruído agudo. Pareceu arrancada de um devaneio florido direto para o chão duro e frio de cerâmica bege.
Cláudio havia levado um tombo daqueles e queixava-se de dores no joelho. Ela pensou de pronto que seria mais uma forma que ele encontrara de chamar-lhe a atenção.
Leila sentou-se no chão e colocou a cabeça do homem em seu colo: Já já passa, querido... Disse com um tom mudo e com os olhos perdidos em algum lugar da parede.
Cláudio levantou-se com dificuldade e caminhou para a sala mancando e com os olhos brilhantes por causa das lágrimas retidas.
-Leve-me ao pronto-socorro, por favor... Pediu.
-Não precisa, querido. Eu faço massagem com gelol, coloco o tensor. Posso colocar uma bolsa de gelo também, meu amigo fisioterapeuta disse que é sempre bom colocar gelo.
Cláudio insistiu:
-Leila, é sério. Está doendo muito, preciso de um médico.

A moça, contrariada, agachou-se para examinar o joelho ferido: -Está só um pouco inchado, você está nervoso, Cláudio. Sente-se aí um pouco e vamos colocar o gelo.
Ele obedeceu colocando a perna apoiada na mesa de centro aos gemidos.
-Tome agora um analgésico e a dor vai passar, meu bem.
Ele obedeceu, tomou o comprimido grande e recostou a cabeça, mais relaxado. Dormiu ali, por duas horas.
Leila fez o jantar enquanto ele dormia. Tinha aprendido a cuidar bem das pessoas em casa. Remédio e carinho sempre eram muito melhores do que frios hospitais e médicos negligentes.
Saúde de verdade era dentro de casa. Preparou-lhe uma bela canja.
Na sala, o homem urrava sozinho. Doía-lhe agora toda a perna, parte de cima e debaixo do joelho. Fisgavam-lhe os quadris, costelas, cotovelos e ombros. Latejavam as veias, os ossos e músculos. E ainda batia o coração.

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