1 de jan. de 2008

Bolinhos de chuva

Hoje deve chover.
Se não fosse tão comum a pressa, eu simplesmente sentaria no banco do jardim e contemplaria as gotas grossas de chuva batendo nas folhas.
Decido não olhar. Decido levantar-me, lavar o rosto e fritar bolinhos de chuva...Eles têm o poder de colorir o tempo.
Engraçado como os atos automáticos de viver podem nos fazer parar de viver. Encontro pessoas felizes que vêem a mística e o sobrenatural em tudo para o alívio do medo de não saber.
Encontro pessoas que tomam pílulas para colorir a vida, os dias e os relacionamentos. Tomam pílulas pra não agredir o chefe, a mulher, os filhos. Pra pararem de falar bobagens. Pra conseguirem dormir com suas culpas e pra renderem mais no trabalho abraçando mais coisas pra fazer. Pra fugir.
Eu quero saber o que é fugir. Se tantos o fazem e parecem continuar sofrendo, parecem não fazer. Parecem fingir que não estão sofrendo. Parecem sorrir mecanicamente porque a pílula está agindo.
E os místicos sorriem por causa da fé em algo que não se sabe. Justificam seus males no sobrenatural. Consolam-se nas forças ocultas e alimentam-se das energias de fé.
No que creio? Não sei. Estou revendo os efeitos dos bolinhos de chuva salpicados de canela que fritei de tarde. Eles podem não ter efetivamente colorido meu dia. Mas mataram minha fome física.

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