14 de ago. de 2008

Queixa sem gosto

O almoço parece diariamente me incomodar. Até porque quando se come só e com a cabeça solta no espaço dos últimos acontecimentos e a vista presa à imagens ao redor, a comida que escolhi para o prato parece não ter nenhum significado.
Eu não gosto do restaurante, as paredes verdes de um verde falso e indigesto me incomodam. A luz fria, indiferente que dá um ar de cozinha caseira não incentiva os alimentos a mostrarem suas cores, apesar de eu saber que é a luz mais indicada para isso.
O cozinheiro parece detestar o que faz, repõe o feijão despejando-o de uma altura que faz o caldo espirrar para os lados e sujar os outros pratos.
O churrasqueiro passeia pelo restaurante cumprimentando as pessoas com seu avental manchado de sangue, suor e sal grosso.
Eu realmente detesto este lugar, mas é o que posso pagar no momento. Gasto em torno de sete reais para almoçar e a comida não é ruim, ela apenas é comida.
Contemplo a tevê ligada no programa mais infame do horário e observo as pessoas, as mesmas do dia de antes. A mesma cenoura avermelhada e o vinagrete com repolho roxo que eu nunca tinha visto. O azeite de uma marca anônima apenas besunta as folhas do agrião, eu como folhas engorduradas.
Me trazem o suco, de laranja ou maracujá, que salva minha refeição. Ele custa dois e cinquenta e representa a parte prazerosa do momento que dura exatamente vinte minutos.
Penduro a conta e toma a última gota do suquinho. Atravesso a rua pra tomar o café de graça no trabalho.
Imagino o dia em que terei que pagar aquela conta. Será amargo, acho. Até porque faz 1 mês que almoço sem pagar, não acho digno pagar por isso. Enfim, alguém precisa ser pago pelo trabalho de fritar uma tonelada de bananas empanadas diariamente, tarefa ingrata e gordurosa. Pagarei com desgosto porque o desgosto é justo por comer sem gosto.

2 comentários:

Sweetie B. disse...

nao consigo. Acabo ficando sem comer.

Mas nao como por comer. Exceto pelas manhas. Elas nao deveriam fazer parte do meu dia.

Amei o post. Apesar de ser um tanto quanto tristonho.

Larissa Simioni disse...

Como sempre escrevendo com uma fluidez caracteristica sua!
Vc sempre melhor que eu em contos!!!
E, descreve com vigor o que muitas pessoas sentem, mas nao compreendem!
Enviei os textos do nosso blog para a minha psicologa, ela sugeriu editarmos para um livro!!!
No que acredito, pois retrata muito o tempo em que vivemos.
Beijos, traveca amada!