18 de fev. de 2008

Lixo, turbante, consciência.

Certa noite de sexta-feira procurei por algumas bolachas jogadas no chão do carro no balanço diário das sobras que se acumulam nos cantinhos. Eram nove horas e eu tinha fome. Sabe-se lá quantos germes, bactérias, fungos e afins vivem aglutinados naquele pó ou se as bolachas tivessem sido alimento de algum animal estranho e fedido que deixa seu cheiro de vez em quando por lá. Melhor eu não saber.

Seguia caminhando pela calçada, com a chave na mão para desativar o alarme e notei um casal tendo uma discussão de relacionamento publicamente.

A mulher, juntava sacolas de plásticos variadas em seus braços. Devia ter uns 43 anos, pra mais. Tinha uma saia longa e um lenço amarrado na cabeça em forma de turbante.

O homem parecia mais novo e vestia uma bermuda jeans calça-cortada e estranhas botas que pareciam bem maiores que seus pés.

Ela grita pra ele, apontando para uma pilha de garrafas e latas espalhadas pela calçada:

-Râmo, home. Cata tudo isso aí.

-Tô catandu, calma mulé.

-Faiz uma hora que ocê tá catando. A gente ta assustando as pessoa.

O rapaz atrapalhava-se com tantas e garrafas vazias e poucos sacos. A mulher, sobrecarregada e impaciente, gritou:

-Você é um lixo!

Imediatamente o rapaz replicou de cabeça baixa.

-Eu não sou lixo, lixo é você.

A mulher do turbante, com despeito, atira suas sacolas no chão e vai de encontro com o rapaz que continua de cabeça baixa.

- Você não presta pra nada. Se não desse tanto trabaio essa coisa eu já teria ganhado mundo, suzinha.

O rapaz parece não se incomodar. Mas ela insiste:

-Eu digo, você é um lixo.

Ele a encara e diz:

- Eu não sou um lixo.

- Então, o que você é?

- Eu sou um catador de lixo.

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