A campainha toca
- Quem é?
-O zelador.
-O que quer?Não tenho dinheiro hoje.
-Quero ver o encanamento do banheiro, o senhor permitiria?
-Você tem um mandado?
-Não, há um vazamento no andar de baixo. Preciso vistoriar.
-Eu não abro sem mandado. Estou ligando pro meu advogado.
-Não tem necessidade, meu senhor. Por favor, me deixe entrar...
-Eu conheço essa história. Vocês entram na casa dos outros, mexem em seus encanamentos, vasculham nossa vida. Eu sei de tudo, eu sei da conspiração! Não deixarei nenhum encanador roubar a minha vida.
-O senhor está exagerando. Agora, por favor. Não temos o dia todo!
-Não abrirei a porta, não adianta. Chame a polícia se quiser.
-Como quiser, senhor.
Minutos depois, o zelador volta a tocar a campainha, dessa vez com uma conta de luz nas mãos.
-Quem é?
-Detetive Palhares, Polícia Militar -Assuntos de Serviços Gerais. Senhor Alvarenga se encontra?
-Pois não, Detetive. É ele.
-O senhor faça o favor de abrir a porta?
-O detetive tem mandado de busca?
-Claro que tenho, aqui está: (Mostrando a conta de luz no olho mágico).
Silêncio. A porta se abre.
-P-Posso saber do que se trata?
-Verificamos que seu apartamento está causando problemas. Estou investigando a vizinhança e concluí que o senhor está encrencado.
O senhor Alvarenga fica pálido e deixa-se cair sentado na poltrona enquanto o detetive Palhares continua seu parecer:
-Há um grave entupimento no seu ralo do banheiro. Teremos que chamar a equipe forense para analisar os fragmentos encontrados no seu box, senhor. Enquanto isso, recomendo que o senhor não saia da cidade. É um conselho de amigo.
O detetive então chama seu assistente que isola o banheiro com uma fita amarela listrada de preto. O senhor Alvarenga começa a pensar em ligar para seus parentes de Botucatu perguntando se poderia passar uns dias por lá, mas logo entende que melhor seria ligar para seu advogado. Fugir seria uma confissão de culpa.
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