27 de nov. de 2007

A Camisola Vermelha

Certo dia, Maria acordou menos nervosa com a vida. Esticou os braços para alongar o sono e respirou tranquila as nove da manhã.
Ela pensou que não queria mais cuidar da casa, não queria mais olhar os filhos e que aquela história de viver na miséria por orgulho já deu o que tinha que dar, afinal, tanta briga depois dos cinquenta anos realmente não valia a pena. Achou que ela tinha mesmo que converter suas economias em roupas, perfumes, hidratantes e um pijama de seda que estava namorando fazia tempo.
Nem uma gota de remorso ela sentiu. Tomou café assistindo a Record e comeu 3 fatias de panetone.
Vestiu-se com o vestido novo de viscose, escovou o cabelo e maquiou-se, arrematando a produção com duas espirradinhas de perfume francês que guardava somente pra ocasiões especiais. Saiu para a rua dirigindo seu carro novo, para o shopping mais caro da cidade.
Almoçou comida japonesa, experimentou sapatos em cinco lojas e comprou 2 cds de música brasileira. Tomou sorvete de Tiramissu e por fim, parou na loja de lingerie para ver o tal pijama.
Era uma camisola vermelha florida, com o robe combinando. Tinha também os chinelinhos de pelinhos vermelhos, com saltinhos. Dignos de divas de novela.
Comprou à vista sem se preocupar e saiu da loja feliz, segurando as alças da sacola com imenso prazer.
Maria voltou pra casa e esticou o pijama vermelho em cima da cama de casal. Espirrou perfume nele. Lembrou-se de uma entrevista com Hebe Camargo, onde ela confessava não conseguir dormir sem passar um certo perfume francês antes. Sentiu-se um pouco Hebe Camargo e foi tomar seu banho de espuma ouvindo os Cds novos no banheiro.
Quando o filho chegou para o almoço, encontrou Maria passando batom nos lábios e cantarolando. Perguntou onde ela ia.
Ela disse que ia ao cinema, depois ia sair com um amigo. O rapaz estranhou, mas calou-se. Só deteve seu olhar na camisola vermelha em cima da cama e imaginou o que realmente sua mãe estava tramando. Resolveu deixar pra lá e viver sua vida. Ele preferia imaginar sua namorada de camisola do que a sua mãe, afinal de contas.

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