25 de mar. de 2008

Eu não gosto de calcinha

Deposito a garrafa térmica sobre o balcão de vidro que também era um armazém de frios e legumes, aqui no bar da esquina.
Um homem entra no bar e dialoga com a figura vestida de preto sentada, tomando café com leite.
Falavam bobeiras sobre futebol. Ao fundo na televisão de quatorze polegadas com volume elevado, percebia-se o show de forró do "Grupo Calcinha Preta".
Pedi que a térmica fosse lavada e depois enchida. A figura de preto virou no banco e eu vi uma águia tatuada no seu ombro esquerdo. Aquela águia fiel, do uniforme preto e branco. Virei os olhos.
O rapaz deveria ter uns 18 anos e revelava seu fanatismo quase religioso naquele time. Estava vestido, tatuado e falava o tempo todo no assunto. Tomava café com leite por ser uma mistura de preto e branco, dizia.
A televisão ao fundo grita "Eu gosto de calcinha!". Silêncio constrangedor, seguido de risada geral.
O menino diz:
Puta música de São Paulino!
E faz uma teoria para explicar o fato e dizer que seus amigos de torcida nunca ouviriam aquele tipo de música.
Minha impaciência pelo café me fez interromper a conversa:
Com licença...Eu sou são paulina e não gosto de calcinha. Se é que minha opinião vale.
O rapaz de preto vira-se para mim, constrangido, enquanto faço aquela minha carinha de lado, meio sorridente.
O café está na térmica, hora de partir. A garçonete me deu uma piscadela e pela primeira vez me disse pra ter um bom dia.


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